Cortejo de Maracatu e Roda de Conversa visam o combate ao Racismo
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Cortejo de Maracatu e Roda de Conversa visam o combate ao Racismo
O Grupo Técnico sobre Racismo Institucional - grupo interinstitucional que reúne representantes da Fundação Hemominas e do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (NUPAD) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e compõe o projeto do Centro de Educação e Apoio para Hemoglobinopatias (CEHMOB) com a parceria da Associação de Pessoas com Doença Falciforme e Talassemia do Estado de Minas Gerais (DREMINAS) - tem promovido ações e iniciativas para a prevenção e o combate ao racismo nessas instituições.
Na tarde de segunda-feira (15/05), foi realizada no Campus Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mais uma ação em prol da conscientização e combate ao racismo institucional e seus efeitos. A atividade começou com um Cortejo de Maracatu com o Grupo Bombos de Iroko e encerrou com uma roda de conversa sobre o tema.
Cortejo de Maracatu
O Cortejo de Maracatu, realizado pelo grupo Bombos de Iroko, começou na porta da Faculdade de Medicina da UFMG e seguiu até o Diretório Acadêmico do campus. Durante o cortejo, o grupo cantou músicas de combate ao racismo. Também foram entregues informativos sobre a doença falciforme.
O líder do grupo, Clayton de Oxaguiãn, lembrou sobre a data em que é comemorada a abolição da escravatura no Brasil (13 de maio). “É uma data importante, faz parte da história, mas é contada de maneira errada. Precisamos ressignificar a data. Maio é mês de descomemoração, de conscientização e de luta”, afirmou. Ele ressaltou a importância de entender que o racismo e as desigualdades sociais afetam todos os trabalhadores e de levar esse recado para todas as esferas trabalhistas.
Vinícius Theofilo da Rocha Morais, 27 anos, é estudante de psicologia na UFMG e participa do grupo Bombos de Iroko desde 2013. Ele destacou a relevância da visibilidade para o racismo, que no Brasil é sutil. “Precisamos falar dele”. O estudante é estagiário no Grupo Técnico de Racismo Institucional, trabalha no Projeto Linha de Cuidados e foi um dos responsáveis pelo evento no campus.
O grupo Bombos de Iroko foi fundado em 11 de outubro de 2012 em Belo Horizonte. Bombo significa tambor de fuste de madeira e membrana nas duas extremidades, que é executado pendurado no ombro. Iroko é um substantivo que significa resistência, força. Nome de um Orixá que representa a ancestralidade.
Roda de conversa
A roda de conversa abordou as dificuldades enfrentadas por uma pessoa com doença falciforme e o preconceito que os negros enfrentam - Foto: Adair Gomez
A roda de conversa contou com a presença de Maria Zenó Soares, presidente da DREMINAS, coordenadora geral da Federação Nacional das Associações de Pessoas com Doenças Falciformes (FENAFAL) e integrante do Comitê Técnico da Saúde da População Negra do Ministério da Saúde; de Ana Paula Pinheiro Fernandes, hematologista pediátrica e coordenadora do Projeto Linha de Cuidados na Atenção Primária à Saúde, do CEHMOB; Janaina Neres, pedagoga, do CEHMOB; Aline Cristina Moraes Silva, assistente social da Fundação Hemominas; de Adriana Nunes Martins, médica de Família e Comunidade, e Núcleo de Humanização da Fundação Hemominas; e de Ana Maria Rabello, Psicóloga do Núcleo de Humanização da Fundação Hemominas.
O diálogo sobre doença falciforme e racismo institucional contou com a presença de 25 participantes e a discussão abordou as dificuldades enfrentadas por uma pessoa com a doença falciforme e o preconceito que os negros enfrentam. Maria Zenó enfatizou sobre o racismo ser o mal do século. “Sou uma mulher com doença falciforme, além da dor física também enfrentamos a do racismo e da discriminação”. Ela também ressaltou que a maioria das pessoas com doença falciforme é negra e o combate ao racismo é uma responsabilidade de todos nós. Outra dificuldade relatada por Zenó foi a extrema “luta”, que durou 23 anos, para incluir a doença falciforme dentre as doenças passíveis de transplante de medula óssea. “E, ainda assim, foi aprovada apenas com o teto de 16 anos, que não existe para nenhuma das outras condições que podem ser tratadas com transplante de medula óssea”, destacou.
Para a hematologista pediátrica Ana Paula Fernandes, é preciso que o tema do racismo seja mais discutido, principalmente em sala de aula, pois, segundo ela, há uma fuga do enfrentamento do assunto abertamente na universidade. “É preciso abrir o discurso, falar do tema (racismo), fazer com que ele esteja em sala de aula e chegue até a juventude. Colocar a doença (falciforme) no âmbito do Sistema Único de Saúde e na área acadêmica”.
De acordo com a assistente social da Fundação Hemominas, Aline Moraes, as ações têm o potencial de sensibilizar as pessoas que enfrentam a problemática do racismo cotidianamente, principalmente aqueles que o praticam. “O intuito do Grupo Técnico de Racismo Institucional é a sensibilização sobre a temática, bem como o enfrentamento e o combate do racismo nas instituições. A oportunidade de discutir e divulgar sobre o tema já é um grande avanço”, afirma.
Segundo Ana Maria, do Núcleo de Humanização da Hemominas, “é a arte nos ajudando a enfrentar os desafios da vida. Um evento como esse é muito lindo e contagiante, no melhor sentido. O grupo Bombos de Iroko é heterogêneo em gênero e raça e isso mostra a importância da inclusão de todos, com seus distintos lugares de fala e instrumentos”.
Para Adriana Nunes, do Núcleo de Humanização da Hemominas, as ações do dia buscaram sensibilizar e despertar as pessoas para um novo olhar sobre o racismo, especialmente o institucional – Foto: Adair Gomez
A médica Adriana, também do Núcleo de Humanização da Hemominas, considerou ótimo o evento que, por meio da arte, problematizações e da roda de conversa, buscou sensibilizar e despertar as pessoas para um novo olhar e reflexões sobre o tema do racismo, especialmente o racismo institucional. "Ressalta-se a importância de um evento como este no Campus da Saúde da UFMG, pois estudantes, professores, trabalhadores e usuários diversos não puderam ficar indiferentes ao ouvir o rufar dos tambores do Cortejo de Maracatu. A Fundação Hemominas, referência em Hematologia e Hemoterapia no estado, está diretamente ligada à questão, especialmente quando temos em consideração que, segundo dados da Dreminas, 95% das pessoas com doença falciforme são negras e sofrem, portanto, os efeitos do racismo institucional. Sendo uma instituição de saúde do SUS, a equidade em saúde é um de seus princípios. A Hemominas vem desenvolvendo ações de conscientização sobre o Racismo Institucional, visando quebrar paradigmas, apontar os desafios e oportunidades para reduzir as desigualdades e encontrar soluções para mitigar a prática cotidiana do racismo institucional no campo da saúde. Isso revela a maturidade da instituição em enfrentar as situações de desigualdade originadas ou determinadas pela raça ou pela cor da pele”.
Adriana Nunes também citou o Painel Temático sobre Racismo Institucional, produzido pelo Ministério da Saúde em 2016. De acordo com ela “o reconhecimento do racismo presente na sociedade brasileira (ainda que muitas vezes de maneira subliminar e dissimulada) e suas implicações, principalmente na forma como as pessoas negras, ou seja, pretas e pardas, acessam e são recebidas no âmbito dos serviços de saúde, e ainda como vivenciam seus estados de saúde e bem-estar, é um passo fundamental para promover a igualdade racial.” É essencial à promoção da equidade racial em saúde, este reconhecimento do racismo, das desigualdades étnico-raciais e do racismo institucional como determinantes sociais de condições de saúde.
O racismo no Brasil é crime previsto na Lei 7.716/1989, é inafiançável e não prescreve, ou seja, quem cometeu o ato racista pode ser condenado mesmo anos depois do crime.
Gestor responsável: Assessoria de Comunicação Social